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VIOLA DE FANDANGO COM PEREQUITA 

Construtor: Davino

Cananéia SP

A história dessa VIOLA DE FANDANGO em particular traz muitas lembranças, algumas engraçadas outras mais nervosas.

Há muitos anos eu e a Sandrinha fizemos uma viagem pelo Vale do Ribeira. Estávamos sem pressa, serpenteando o rio Ribeira de Iguape por quase um mês. Rodávamos em um velho fiat carregado com barraca,  panelas, mantimentos e uma viola Cravinho da Del Vecchio.

Fomos a Itaóca e voltamos ainda acompanhando o rio. A uma certa altura interrompemos a viagem e voltamos a Cananéia para participar da festa de Santo André, convidados pelo nosso amigo Felipe. Depois da festa, retomaríamos a viagem novamente.

Acontece  que depois de acampar e festejar por dois dias  no "Pereirinha" (Ilha do Cardoso em frente à Cananéia), na volta ficamos à deriva num barco com o motor quebrado, eu, a Sandrinha, a Gabi (irmã do Felipe) e o Sr Daniel, o dono do barco que nos levaria de volta ao continente.

Depois de resgatados, resolvemos descansar em Cananéia por uns dois dias antes de seguir viagem.

Em Cananéia, após um longo papo com nosso amigo Janjão da Toca da Onça, resolvemos conhecer um fazedor de viola que morava num bairro mais afastado.

Depois de muito procurar chegamos num boteco em que o Davino estava jogando bilhar.  Nos apresentamos e  ele se prontificou a mostrar alguma viola se nós o seguíssemos até sua casa.

Depois de caminhar um bocado, por uma área meio alagada e sob forte garoa, chegamos à sua casinha de madeira.

​O Davino pegou um facão e contou que fazia os instrumentos usando somente o facão como ferramenta. Ele já estava meio de fogo. Abriu uma geladeira velha que já não gelava há muito tempo e tirou de lá uns braços de Rabeca que estavam  guardados e, ao mesmo tempo, balançava o facão pra lá e pra cá.

Por fim, entrou lá pra dentro e trouxe essa viola da foto. É uma viola feita em Caixeta e os trastos são feitos de fio de cobre martelado.

Quando ví o Davino meio de fogo segurando a viola com uma mão e balançando o facão com a outra, eu disse: que viola bonita, isso sim que é viola. Comprei na hora.

Antes de irmos ele ainda nos mostrou a Sumaré, uma bromélia que ele fervia pra fazer cola e, realmente, as colagens das violas dele são pretas.

Depois de comprar a viola, deixamos Cananéia e voltamos pra Iporanga retomando a viagem pelo rio Ribeira de Iguape.

O Davino nos deixou há algum tempo e agora deve estar fazendo viola lá no céu.

Não tenho nenhuma rabeca dele, mas tenho duas ou três violas feitas por ele.

Valmir

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