Arão Barbosa foi o primeiro construtor de Rabecas que conheci.

 

No começo dos anos 1990, fui convidado pela SUTACO -- Superintendência dos Trabalhos Artesanais nas Comunidades -- órgão do estado de São Paulo, para participar de uma exposição com vários outros construtores de instrumentos musicais de todo o estado paulista.

 

Para essa exposição foram trazidas as Rabecas de Iguape, mas não os artesãos. As Rabecas do Seu Arão se destacavam, eram muito bonitas e bem feitas. Prometi que um dia iria à Iguape para conhecê-lo.

 

Passado algum tempo, lá fui eu com a Sandrinha a Iguape pra ver como estava a construção de instrumentos musicais na região.

 

É importante lembrar que nos anos 90 havia dificuldade em obter informações simples, os Centros de Cultura não tinham a importância que tem hoje e a internet era uma desconhecida. Um exemplo disso foi que quando começamos a procurar pelo fazedor de rabeca Arão Barbosa em Iguape, ninguém o conhecia e quem conhecia não dizia.

 

Depois de muito procurar chegamos ao Rocio, um bairro com quadras grandes e casas de madeira o que fazia todas as ruas parecerem iguais.

 

Por fim, encontramos o Seu Arão Barbosa. Alto, bem branco e de óculos grandes, foi cordial e muito educado. Antes de sermos convidados a entrar em sua casa, tivemos que explicar tim-tim por tim-tim o que fazíamos ali.

 

Seu Arão nos mostrou seu local de trabalho e algumas Rabecas amarradas com câmara de bicicleta, na certa a cola ainda não havia secado.

 

Nessa época ele havia sofrido um AVC e praticamente trabalhava apenas com uma das mãos. A maior característica de suas Rabecas é o cavalete em forma de "M". Esqueci de perguntar qual o motivo.

 

Depois de muito conversar, escolhi a minha Rabeca.

 

Foi assim que conheci Arão Barbosa, um fazedor de Rabecas muito importante pra história de Iguape, um mito que se foi há algum tempo.

 

Tenho umas três Rabecas de quatro cordas do Arão Barbosa que adaptei pra tocar com três.