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RABECA DE 4 CORDAS

Construtor: Desconhecido

São Miguel Arcanjo  SP

São Miguel Arcanjo é uma linda cidade há cerca de 200 km da capital de São Paulo, em direção ao Paraná.

 

Na época em que a conhecemos era considerada o berço da uva Itália, cultivada na região desde a chegada dos primeiros colonos Italianos.

 

Certa feita, fomos convidados pelo Dudu, o jovem Secretário de Cultura, a expor e vender nossos instrumentos musicais na festa do folclore da cidade. Ele tinha conhecido o nosso trabalho assistindo a uma entrevista que dei ao programa “Repórter Eco" da TV Cultura. Isso aconteceu no século passado...

 

Partimos pra lá eu, a Sandrinha e o meu amigo João Junior. Chegamos na cidade e logo fomos apresentados aos organizadores da festa.

 

Ficamos sabendo que havia uma luta pra reverter a situação do prédio que abrigou o antigo cinema e, na ocasião, estava em posse da iniciativa privada e não era tombado pelo Patrimônio Histórico.

 

Fizemos uma visita ao prédio de traços arquitetônicos muito marcantes. Espero que a luta para reabrir o Cinema tenha sido vitoriosa e também o processo de tombamento da edificação.

 

Numa das andanças pela cidade, o Dudu nos levou à casa que era usada pra guardar alguns apetrechos e quinquilharias da Igreja, e também pra fazer almoços coletivos.

 

Era uma casa enorme com fogão e forno à lenha e ali conhecemos o Zé Góis, um membro da comunidade e, se não me engano, marceneiro que ajudava a guardar e manter os apetrechos da igreja. Ele nos mostrou uma série de objetos como as gigantescas matracas de roda que eram utilizadas na Semana Santa, os castiçais e algumas matracas de madeira.

 

Zé Góis foi até a casa dele e trouxe um saco de linho com relíquias do pai, alguns instrumentos que foram usados nas Folias há muitos anos. Dentre esses instrumentos, uma Rabeca sem cordas ou cavalete. Só o corpo da Rabeca.

 

Ele me pediu para aceitá-la como presente, pois eu iria cuidar dela e em minhas mãos ela seria melhor aproveitada.

 

Eu arregalei os olhos e confesso que fiquei meio constrangido com o presente, porque eu o considerava muito valioso. Comecei com aquela conversa de “não posso aceitar”, “obrigado, mas não precisa”... e ele insistindo. A Sandrinha pegou a Rabeca, agradeceu ao Zé Góis, afirmando que ela seria muito bem cuidada. Na minha timidez, eu não conseguiria aceitá-la.

 

Essa talvez seja a Rabeca mais antiga do nosso acervo, pois o Zé Góis disse que ele era adolescente e o pai já tinha essa Rabeca. Não sabemos onde ela foi adquirida, mas eu pesquisei e ela foi feita na região entre Sorocaba e o Vale do Ribeira.

 

 

É uma construção fina e tem muitos detalhes no acabamento. O som dela é muito bom e até hoje eu uso essa Rabeca pra tocar.

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